22.12.06

E Era Natal


Era véspera de Natal. Um jovem pai permanecia sozinho diante de uma lareira. Como era costume da família, sua esposa e filhos haviam ido sem ele ao culto vespertino na igreja. Não que ele fosse hostil acerca de certas coisas, ele somente via não sentido nelas. E ali permaneceu. De repente, ouviu uma agitação do lado de fora da janela: um pequeno bando de pardais procurando refúgio, atraído pela luz do fogo, batia repetidamente contra a vidraça. Sem poder fazer nada ele observava as pequenas criaturas exaustas começando a cair, uma a uma, sobre a neve. Subitamente ele teve uma idéia! E apanhando seu agasalho dirigiu-se, rapidamente, ao celeiro. Apressadamente, escancarou as portas, acendeu as luzes a fim de atrair os pássaros para o calor e segurança. Mas para a sua decepção, seus esforços somente assustaram-nos ainda mais. Até que finalmente desapontado retornou para dentro de casa. “Se eu pudesse fazê-los entender”, ele pensou. “Se pelo menos eu pudesse tornar-me um deles, certamente conseguiria conduzi-los à segurança”. Nesse momento, então, à distância ele ouviu os sinos da igreja começarem a tocar o Natal. Cada badalada parecia ecoar suas palavras. “Num deles... Num deles... Num deles...”. Foi aí que ele compreendeu. Havia uma razão para o Natal. Cristo veio à Terra para tornar-se um de nós, pois Ele poderia conduzir-nos à Eternidade. De joelhos, chorando, ele abriu seu coração para Aquele que tanto o amou. E, pela primeira vez em toda a sua vida, era Natal...

21.12.06

De Repente

E de repente vem um sorriso
Mesmo sem motivo, ele vem
Sem avisar, sem convite
Tímido começa, mas persiste
Força suficiente para erguer
Os olhos, e com eles a fronte
Não há perguntas,
nem razões,
Apenas sorriso.


Bom mesmo é
Ser feliz e não saber.

18.12.06

Além dos Olhos


Era cega de nascença. Sempre que lhe perguntavam há quanto tempo estava cega, respondia: "É de nascença". Pelo menos foi isso que seus pais ensinaram que deveria responder, embora só compreendesse o que essa palavra significava muito tempo depois. Tudo o que sabia a respeito do mundo, das cores, das formas, sabia através dos outros. Sempre foi assim. Roupas, vestidos, calçados... Jamais tivera a chance de escolher por si mesmo aquilo que mais lhe agradava. Perguntava aos outros, sempre os outros. Estou bonita? Sim. Todos diziam que sim e para ela isso bastava. A imagem que a garotinha tinha de si dependia de outros olhos. Até que veio a escola e, com ela, as outras crianças. O maior defeito (e também qualidade) das crianças é que elas falam o que pensam, mesmo quando o pensamento é cruel. Via-se através dos olhares curiosos dos coleguinhas, que sempre a trataram como alguém diferente. E de fato ela era. Mas não gostava de o ser. Preferia passar despercebida na multidão, porém seu destino era justamente o oposto: seria percebida, sem perceber. Cresceu. Tornou-se uma moça. Seu prazer era colecionar elogios que lhe faziam. Seus ouvidos eram atentos a tudo, era mesmo capaz de memorizar até a entonação das frases que lhe diziam. E era seu contentamento quando diziam que era bela. Como queria ser bela! Devia ser muito bom ver algo belo, caso contrário as pessoas não dariam tanto valor à beleza. Se ao menos pudesse ver-se... Mas dependia dos outros. Eis o grande perigo: nem sempre os outros diziam o que pensavam. Adultos não são como crianças, e guardam os comentários cruéis para si, quase sempre. E mais freqüentemente ainda são indiferentes. E ela não entendia a indiferença: notava o silêncio daqueles ao seu redor deduzia: Estou horrosa mas ninguém tem coragem de me dizer. Sofria em seu mundo particular quando recebeu uma dádiva: um jovem se apaixonou por ela. Ele a chamava de "linda" e assim ela se sentia. Diziam também que o jovem era belo. Que orgulho ela sentiu! Era tão agradável a sensação que não se preocupou em mostrar a ele tudo de si. Graças a sua sensível habilidade de ouvir adquiriu gosto pela música, pelas palavras, pelas histórias que lhe contavam. Cantava docemente, fazia poemas. Disso ele nunca soube. Porque depois de um tempo o jovem se foi, deixando a ela apenas o silêncio. Ela sabia o que isso queria dizer. O silêncio. Foi quando chorou, copiosamente. Horas. Dias. Até semanas depois, suas lágrimas ainda fluíam, turvando-lhe a visão. Visão? Seria possível? Ela via? Sim! Não sabia exatamente o que estava acontecendo, mas tinha certeza de que era algo diferente de tudo o que havia vivido até aquele momento. Percebia as folhas das árvores se movendo lá longe, o que antes só era possível quando as mesmas folhas tocavam sua pele. Ela via! Precisava de um espelho. Rápido! Teria muito tempo depois para conhecer o mundo. Que importava ver o universo todo, se não conhecia a si mesma? Rápido! Um espelho! Pronto. É agora. Um medo cortante percorreu seu corpo. Ergueu a cabeça e olhou diretamente nos olhos. Viu dois círculos de uma cor muito viva, que mais tarde lhe diriam ser da cor do oceano. Claro que não descansou até conhecer o mar, e achou maravilhoso ter no rosto porções da imagem mais fantástica que chegou a conhecer. Mas não foi só isso que viu quando se olhou no espelho pela primeira vez. Viu que os dentes eram bem brancos. Dava pra ver bem, porque não conseguia parar de sorrir! Viu os cabelos, a pele, o corpo todo, as formas. Era bela! Sempre que lhe diziam isso, acreditava. A diferença era que agora ela sabia. E isso mudou tudo.

16.12.06

Você Pode


(Traduçao livríssima que a Menina fez do Poema "O Me! O Life!" da obra "Leaves of Grass" de Walt Whitman. Que ele me perdoe.)

Oh Eu! Oh Vida!

Oh Eu! Oh vida!... das questões que sempre voltam;
Dos infinitos trens de descrentes - de cidades repletas de tolos;
De mim mesmo censurando a mim mesmo, (pois quem mais tolo que eu, e quem mais descrente?)
Dos olhos que em vão almejam a luz - do significado das coisas - do esforço sempre renovado;
Dos pobres resultados de tudo - das laboriosas e sórdidas multidões que vejo ao meu redor;
Dos vazios e inúteis anos de descanso - com o descanso entrelaçado a mim;
A questão, Oh Eu! tão triste, que volta - O que de bom há nisso tudo, Oh eu, Oh vida?

Resposta.

Que você está aqui - que a vida existe, e a identidade
Que a poderosa peça continua, e você pode contribuir com um verso."
A Menina conseguiu (finalmente) desfazer os nós nos seus dedos, parar de bater a cabeça na CPU e colocar o sistema de comentários no blog. Agora você, leitor, pode participar. Não é lindo? Eu sei... Também estou emocionada.
Você, que me vê, poderá também ser visto. Se quiser.

15.12.06

Ali, Onde o Sol Se Esconde



Ali. Ali coloquei minhas esperanças e paixões. Bem ali, onde o sol se esconde. Ao final de cada dia eu conversava com minha janela. Falávamos do espetáculo de cores, enquanto o sol nos beijava a fronte. Defronte. Ali, onde sol se esconde, sempre no mesmo lugar... Ali mora minha saudade. Ali está a luz que sorriu pra mim. Tão belo o sorriso. Tão clara a alegria. Tão furtacor a sensação. Ah... Ali eu sorria de graça. Eis que o sol me chamou hoje, para se despedir de mim, como fazia todas as tardes. Me chamou para rumar-me os olhos ao lugar de sempre, bem ali. Não pude.

Hoje quem se esconde... sou eu.

5.12.06

O Homem da Minha Vida


Quando ele chegar, me encontrará alerta, armada de mil argumentos, disposta a não amar mais ninguém. A porta do coração semi-aberta, com a placa de "Não perturbe". Respeitará as dores do meu coração e, ignorando completamente o aviso, vai entrar e fechar a porta por dentro. Então ele vai acender todas as luzes e limpar toda a poeira.

Será meu grande amigo. Um novo amigo com jeito de amigo de infância. Vai embaralhar suas memórias com as minhas de tal forma, que sentiremos que nossas histórias se fundiram em uma.Quando ele chegar, aquecendo a vida entre os dedos, perguntando o porquê antes de nós passaram-se tantos dias, roubará todos os meus segredos. E entregará os dele pra mim.

Quando ele chegar, vai me embalar em suas histórias, puxar pra perto minha cadeira e, como se eu fosse um criado-mudo, me dar seus sonhos pra eu guardar. Antes dele me beijar, fará das palavras dedos suaves a percorrer-me o rosto e os contornos, pedindo para eu nada dizer.E quando ele tomar minhas mãos entre as suas esquecerei o cansaço de ter estado tanto tempo a lhe procurar. E por todas as frustrações que vivi, toda a angústia que sofri por não ter alguém, me sentirei agradecida: só permitiram que o encontro com ele fosse único e perfeito.

Ele rirá de mim, por mim, comigo, de si...Encherá meu mundo de um riso sem motivo. Essas coisas boas de tão bobas. E que ninguém tem coragem de contar. Serão apenas nossas. Ele trará pra mim o melhor abraço (o melhor do mundo), e a melhor trilha sonora, pra combinar. Vai olhar pra mim, demoradamente, enquanto os mocinhos do filme se beijam. E só então me dará um beijo. Lento, longo, possesso, posseiro.

Falaremos das músicas, do pôr-do-sol, lirvos e filósofos.E entre impossíveis e risíveis amores, ele vai me contar das mulheres que passaram por sua vida. E de todas as suas afrontas. Ele sempre respeitará o meu silêncio quando penso no que elas podem ser melhores do que eu. E antes que eu me desmereça, pousará o olhar sobre meu medo. Pintará nos meus olhos um futuro distante. Fazer-se-á meu, até perder de vista.

Quando ele me olhar, contemplará minhas imperfeições achando as coisas mais lindas de se olhar. E buscará nos meus sonhos infantis, todas as fábulas, os contos, os encantos: todos os sonhos a que faço jus. E verá em mim a princesa que eu sempre quis ser. Ele verá lágrimas que são só minhas. Mas que ele vai prometer nunca mais deixar brotar.

A dor de não tê-lo perto é tão intensa quanto esse amor que pulsa aqui dentro. Mas o que eu mais quero nele é o que ele quer em mim:

Eu sempre junto dele, como a mulher da sua vida.

29.11.06

Premissas Pessoais. O reencontro.

"Ela estava no espaço. Depois de jogar tudo aquilo que não servia fora, sentia-se livre, uma alegria nostálgica, daquelas que se sorri querendo chorar e se sente plena com um imenso vazio. Não estava enganada, era a liberdade, ainda que seja meio sem rumo. Não desejava mais olhar para trás, sabia que iria encontrar em seus calcanhares apenas uma sombra. Sombra de algo que foi bom e passou, deixando destroços e rasgos irreparáveis, porque não se foi sem antes devastar cada pedaço que estava inteiro. Agora não sobrou muito o que remedar, a dor dilacerante ia durar, mas passaria, ela sabia disso. Dava o primeiro passo depois de se levantar, e caminhar sem olhar para o lado e perceber que alí existe um espaço que antes fora ocupado por alguém, por sonhos, por alegrias, mas que agora se transformou em agonia, ainda é difícil.Olhou para dentro, viu mais do que poderia ver, percebeu que ao amar deve-se doar-se por inteiro, mas é sempre bom guardar a parte mais importante, a base da alma, porque se um dia tudo chegar ao fim, saberá que existe um ponto de onde recomeçar. Era isto o que fazia agora e nada iria impedir este recomeço. Viu as luzes de seus sonhos e aprendeu que deles nunca se deve desistir, percebeu uma luz imensa e esta luz era si mesma. Luz que ficou trancada durante muito tempo e que escondeu de tudo e de todos, até mesmo de si. Era bela. Porque escondia então esta luz? Lembrou-se dos motivos e eram muitos. Aprendeu a não mostrar aos outros o que é muito valioso, viu muitos sofrerem e sofreu muito também, aprendeu que as pessoas são egoístas e invejosas, poderiam querer roubar esta luz ou então tentarem apagá-la. Viu muito isso acontecer e o mundo mostrava isso o tempo inteiro, o mundo é um caos no qual todos estamos mergulhados e precisamos ser cuidadosos. A vida é feita de competição precisamos ser duros, cultivar os amigos, desde que eles nos dêem sempre o que precisamos, caso contrário não é amizade. Estas eram as premissas que ela aprendeu e a que todos usam e respeitam. Por que então apesar de tudo isto ainda sofria? Por que este medo terrível ainda a persegue? Aprendeu tudo, mas esqueceu as premissas pessoais, aquelas que ficaram esquecidas no tempo, e que todos fizeram questão de apagar. A luz aumentava cada vez que sentia-se um pouco mais forte, precisava encontrar-se, encontrar aquela garotinha de abraços carinhosos e sinceros, que sorria para iluminar a tristeza alheia sem saber que com isso também se iluminava. Encontrar a menininha que sabia perdoar a si mesma pelos tropeços e que sempre estendia a mão para ajudar e ser ajudada, por saber que a cooperação é melhor que a competição, embora as duas palavras comecem e terminem com as mesmas letras. Estava ela próxima da luz, estava no espaço e sorria, e chorava, e encontrava esperança, e servia-se dela para levantar-se. Percebia assim a garotinha diante dela e sua luz fundia-se à da outra e as duas tornavam a ser uma só, ela tornava a ser ela mesma. Caminhando de novo, um passo de cada vez, mas agora mais firme e feliz."

Texto gentilmente cedido por Mago.
*Meu amigo Mago é casado, mora em Osasco-SP, é São Paulino e se apaixona por tudo (vide post anterior, rs).

Assim eu Fico Sem Jeito


Meu antigo blog foi destaque na página do Mago. Deletei, criei um novo endereço mas ele insiste em me acompanhar. Transcrevo aqui o carinho que dele recebi, em forma de texto. Ei-lo:

"Incoerente, solteira, tímida, organizada, lúcida, inteligente, amiga presente com ou sem corpo, já que mesmo longe, aqui está em pensamento. Encontrei-a por acaso, eu amo o acaso , apesar de não acreditar nele. A verdade é que através de uma pesquisa de minha esposa cheguei ao blog dela e assim que li alguns textos, me apaixonei (as pessoas dizem que me apaixono por tudo, o que não acho ser verdade). Agora não consigo parar de lê-la um só dia. Sua página é muito mais que um simples blog, é um lugar aconchegante, organizado e carinhoso , que acolhe e faz refletir, como um colo de mãe. "Menina", a dona dele, é simplesmente demais, e deixa o blog com o jeito e a face dela, belo e transparente. Eis o destaque da Semana. Páro aqui, já que sou propenso a falar demais quando me apaixono."


A partir de agora devo ter convidados, vez por outra, neste blog. O primeiro visitante ilustre não poderia ser outro. Com vocês, no próximo post: Mago.

1.11.06

Sobre Taças e Cálices


"Sempre que me convidam a opinar sobre casamento inevitavelmente me vem à cabeça taças de champanhe e cálices de vinho.Essas taças e esses cálices são os que ganhamos, minha mulher e eu, no dia do nosso casamento. Na lista de casamento, as taças e os cálices são os meus itens preferidos. Claro que geladeiras, por exemplo, são literalmente um presentão. E que presentinhos como tupperwares não são incríveis no estilo originalidade, mas são práticos, sim, e necessários e bem-vindos. Mas quem dá taças ou cálices não está se preocupando com a vida prática. Está, na verdade, investindo em comemoração, na alegria, no momento especial, no tintim.

Imagine um dia na vida de recém-casados. Eles despertam. Usaram, assim, os lençóis que foram presente da vovó. Tomam café usando as xícaras que foram presente de uma das sogras. Têm um longo dia de trabalho usando underwears que ganharam de um dos cunhados. Voltam para casa pensando no que vão fazer com o bendito conjunto de fondue que ganharam da vizinha. Ou, antes: onde enfiar a maldita racleteira do bendito conjunto de fondue. Ao chegar, tomam banho usando as toalhas que ganharam de um dos sogros. Logo depois do jantar (em que eles usaram as travessas que ganharam de uma das cunhadas), o casal coloca um CD (que era dele antes do casamento), acendo um incenso (que ela tinha desde que namorava outro cara) e bebe um vinho. Finalmente, comungam, um dando atenção a si e ao outro, um chegando a si e ao outro. Pois é nesse instante, breve se pensarmos nas muitas horas do dia, que o casal está convivendo com o presente de um grande amigo do peito: os cálices.Se o vinho e o papo forem bons, provavelmente os lençóis, presente da vovó, serão bem utilizados em seguida.

E o ciclo no próximo dia se repetirá, até um novo momento de paz, este, quem sabe, com champanhe e com o presente de uma grande amiga do peito: as taças.Taças e cálices são o que fazem o casamento não ser, argh, um matrimônio. E uma mulher não ser, argh, uma esposa. Mas se você está imaginando que o casamento me faz pensar em taças e cálices porque acredito que uma vida a dois não resiste sem doses de carinho, sem momentos de delicadeza, sem intervalos amorosos, isso é verdade. Mas não é toda a verdade.A verdade. O casamento também me faz pensar em taças e cálices porque casamentos duram, duram, duram e um dia essas taças e cálices começam a quebrar. Sim, quebra uma taça em um jantarzinho à luz de velas, quebra outra em uma festa de aniversário, quebra um cálice quando os dois, meio bêbados, se encaminham até o quarto, quebra outro por descuido, na pia da cozinha. E quebram várias e vários quando chegam os filhos. Assim, a gente vê ali, no armário da sala, a passagem do tempo. Nossa coleção de copos (difícil achar sinônimos para taças e cálices) vai sofrendo dramáticas e terríveis baixas... (repare: as fotos na prateleira também estão ficando mais desbotadas a cada dia).E ali na frente do armário, parado no meio da sala a gente se pega perguntando: apenas as taças e os cálices não resistirão à longevidade do casamento? O nosso frágil amor resistirá? Quebraremos nós também, eu um cálice, ela uma taça? Será que o tempo, implacável, exige que um homem, para continuar cônjuge. seja resistente e opaco feito um tupperware? E que uma mulher seja forte e fria feito uma geladeira? Não. Sinceramente acho que não.

Cacos didáticos?

As pessoas costumam dizer que vão perdendo as ilusões à medida que o tempo passa. E falam isso como se fosse ruim se desiludir. Perder ilusões é sabedoria. Ilusão é truque. Ilusão é mentira, ilusão é ilusão. Não acredita? Olhe no dicionário. Ou olhe pra vida. Amor é amor quando você prefere sua mulher a uma mera tapeação. Amor é amor quando você aprecia mais o seu homem do que um sonho dourado.É isso que o casamento ensina sobre o amor - ou ao amor.Quando você perde ilusões ganha na vida real. Em vez de ficar perseguindo uma quimera, descobre que já chegou, faz tempo a um bom lugar. A sua própria casa.

Sábios copos.

Por isso que o tema casamento me remete a taças de champanhe e cálices de vinho, às taças e aos cálices que ganhamos, minha mulher e eu, na festa de casamento. Esses copos chegaram a nossa vida em um dia de celebração. Depois, com o tempo, se revelaram parceiros sempre que a celebração, não importando o dia, voltava a tomar conta das nossas vidas. E então, esses sábios copos despediram-se na hora certa, a tempo de deixar bem claro que a celebração, afinal, não estava neles. Mas em nós, marido e mulher. A ponto de hoje em dia, o marido e a mulher estarem convencidos de que é preciso comprar taças e cálices novos para casa. Os deuses estão exigindo novos sacrifícios em nome da saúde desse casal. Precisamos fazer novos brindes, quebrar novas taças, estraçalhar novos cálices.

Transparências.

E como casamento também me remete a taças e cálices, casamento acaba me remetendo a transparências. Faz sentido.Quanto mais tempo duas pessoas convivem, mais elas ficam transparentes uma para outra. E isso não é ruim. Isso é amor."

Marcelo Pires

Os Macacos



"Cinco macacos faziam parte de uma experiência, trancados em uma grande jaula, com uma escada dobrável no centro e um cacho de bananas pendurado, bem ao alcance daquele que subisse a escada. Pois bem. Cada vez que um dos macacos começava a subir a escada, em busca da banana, os cientistas ligavam uma mangueira e lançavam um forte jato de água gelada sobre os outros quatro macacos. Depois de um certo tempo, cada vez que um macaco tentava subir a escada, era atacado e fortemente espancado pelos outros quatro. Até que ninguém mais pensava em subir a escada, por mais apetitosas que fossem as bananas. Então os cientistas substituíram um dos macacos. O macaco novato, ao ver as bananas, e a escada, e sem saber o que se passara anteriormente, foi direto em direção à comida. Tomou uma grande surra. Deve ter achado aquilo tudo muito estranho. Fez outras tentativas e foi surrado outras vezes. Até que desistiu. Os cientistas substituíram outro macaco. A história toda se repetiu. O segundo macaco substituto tentou pegar a banana e foi atacado pelos demais, inclusive pelo macaco anterior, que, por sinal, participou do ataque com grande entusiasmo (afinal de contas, deve ter pensado, agora eu faço parte do time dos vencedores!). E assim os cientistas trocaram o terceiro macaco, depois o quarto e por fim o quinto macaco original. E tudo se repetia. O macaco recém-chegado tentava pegar as bananas, era espancado pelos outros quatro, fazia outras tentativas, apanhava mais, até que desistia. Nesse ponto da experiência os cientistas tinham um grupo de macacos que nunca tinham sido atacados com jatos de água gelada. Entretanto continuavam batendo naqueles que tentavam pegar as bananas. Se os macacos soubessem falar e se alguém perguntasse "por que vocês atacam e batem em quem tenta se aproximar das bananas" a resposta certamente seria "Não sei. As coisas, por aqui, sempre funcionaram dessa maneira..."

A metáfora acima retrata bem a realidade humana. Mudanças são vistas com muitas reservas. Pessoas são desestimuladas a inovar, para não acabar com as arcaicas referências dos mais antigos.Por que não se pergunta o porquê de ser assim? Se poderia ser de outra forma...É... As pessoas se acomodam, mas não deviam. Afinal, a rigidez mental, o conservadorismo, o tradicionalismo, acabam por engessar a mente humana, privando-a da evolução, do aprimoramento.

Tenho justo receio de que, como os macacos, acabemos por nos esquecer das bananas.

3.10.06

Pai-Natureza


Papai criava muitos pássaros. Periquitos, sabiás... Achava uma judiação prender bichinho assim na gaiola, mas ele se defendia dizendo que se não fosse assim eles morreriam porque não sabiam procurar comida sozinhos. Deviam ser muito bobinhos mesmo, os pássaros. O mais novo prisioneiro era um canário. Papai percebeu que ele ficava muito triste sozinho. Disse: "Não é bom que o canário viva só." Comprou pra ele uma companheira que lhe fosse idônea. E ordenou: "Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei a gaiola." O resultado foram três canarinhos. Eram bonitinhos, mas muito esquisitos. Não era igual pintinho. Brincar com pintinho era legal, tinha uma penugem fofinha, fofinha. Dava gosto que só vendo eles dormindo embaixo da mamãe galinha. Mas o filhote do canarinho, pobrezinho, era uma coisinha sem forma, com olhos enormes, um bico engraçado e algumas penas espetadas pelo corpo. Nem dava vontade de brincar. Eu não entendia, mas papai sorria achando que tudo estava bom.

23.9.06

Vanilla Sky


"Cada minuto que passa é uma nova chance para se mudar TUDO."

16.8.06

Sinfonia dos Ventos


Ventos de mudança... Ventos bons virão a cada dia, na forma de uma brisa suave que chega ao entardecer. Uma brisa que vai acariciar meus cabelos, trazendo consigo um aroma de alegria, o frescor da juventude e, por vezes, o calor das paixões. Serão bons os ventos. Bons os momentos. Ares coloridos. Todos os tons. Todos os tons. Cores e sons. Nessa sinfonia natural, que fluirá na cadência de ondas tranquilas, ou até turbulentas, não estarei só. Alguém, por SI mesmo, LÁ longe... Verá o SOL comigodepois de cada tempestade e vai compor o dueto mais bonito. Tocará aquela nota. A que se encaixe perfeitamente com a nota que sou. É isso que sou: uma singela e semi-breve nota musical.

[fade out]

5.7.06

Ditos


"Un basier ces't le point sur le i du mot aimer"

É o que dizem os franceses, mas não funciona em português: Um beijo é o pingo em cima do i da palavra amor. Amor não tem "i". Os "is" e os "ismos" sufocam o amor.

Dizem que vale a pena lutar até o fim, porque se depois disso não tivermos sucesso ao menos saberemos que não foi por falta de esforço.

Insensatez.

Se você luta até o fim e consegue o que quer, ainda vai. Mas se você luta incessantemente e ainda assim só chega ao fracasso... Então você é mesmo um fracassado. E as pessoas também dizem que no final tudo dá certo, e que se não deu certo agora é porque ainda não chegou o final.

Idiotice.

A vida não é feita de finais felizes. Mesmo depois de exaurir todas as nossas forças para alcançar um certo objetivo, pode ser que o final seja bem trágico. Talvez ainda mais triste justamente pelo fato de termos nos esforçado tanto. Porque aliado a isso vem a sensação de impotência: quando não importa o que façamos, a realidade permanece ali... Cruel. Eu, que sempre achei que conseguiria tudo o que eu quisesse se eu desse tudo de mim. E quase todas as vezes que me esforcei tive o que quis. Paguei altos preços e me acostumei a ter um final feliz.

Ilusão.

Há coisas que realmente não dependem de mim. Contra elas, não há otimismo que vença. Não há esforço suficiente. Por isso, cessem os conselhos. Parem com essa onda de otimismo. Chega de ser "ser brasileiro e não desistir nunca". Às vezes desistir pode ser a única saída. E pode ser a solução para uma queda menor, do alto dos nossos sonhos. E eu sonhei alto demais. Não deu pé pra mim...Estou triste. Há apenas uma lição praticamente irrefutável, que aprendi agora: "Se eu tomo banho e continuo triste depois disso, é porque estou realmente triste. E se durante o banho eu consigo mesmo sob a ducha sentir as lágrimas fluindo... é porque estou morrendo aos poucos."

Isso. Isso sim é verdade.

12.6.06

Dia dos Namorados


Cenas:

Um casal se reconciliando na rua. Creio ter ouvido algo como: "Você pensa que eu não estou
sofrendo também? Me perdoa...". Depois disso veio o beijo.

Um rapaz revoltado com a vida: "Eu vou largar aquela mulher... Depois eu pago pensão, eu tenho um filho só..."

Um casal de velhinhos (bem velhinhos) passeando no shopping, de mãozinhas dadas. Cena rara. Mas muito bonita.

Às vésperas do dia dos namorados, vi muitas pessoas comprando seus presentes. Eu as via escolhendo meticulosamente, e depois saindo com um sorriso no rosto, como que antecipando as horas agradáveis que passariam perto da pessoa amada. Sorria sozinha, ao ver as pessoas no exercício do amor. Pensando apenas no outro, querendo agradar. Ao ver algumas senhoras lendo cartões e suspirando com a mensagem que seus namorados leriam alguns dias depois...

O "dar presentes" é algo necessário. Não pra quem recebe. Mas pra quem dá. Escolher presentes é um exercício de amor. Porque é nessa hora que deixamos de pensar em nós mesmos para pensar exclusivamente no outro. Pensamos nos seus gostos e preferências. Pensamos em dar o melhor, pensamos no sorriso que a pessoa dará ao receber aquele mimo. Durante esse processo todo, sem que a gente perceba, o amor é aumentado.

O amor está por toda parte. De várias formas.

E eu ainda acho que o amor é lindo (embora eu não me lembre direito).

Feliz Dia dos Namorados!

13.5.06

As Sem Razões


Pessoas namoram, se casam, buscam alguém para compartilhar a vida. Isso é fato. Desde que o mundo é mundo é assim. Apesar do desfile de relacionamentos fracassados, todos insistem nessa busca por alguém com quem compartilhar o resto dos seus dias. Por quê? Por amor? Paixão?

Nada disso.

Pessoas se casam porque precisam de uma testemunha para sua vida. Existem bilhões de pessoas no planeta, e o que significa ser apenas uma vida no meio de tantas? Mas num casamento você promete se importar com tudo. Coisas boas, coisas ruins, coisas péssimas, coisas simples, coisas mundanas. O tempo todo, todo dia.

Você diz: "Sua vida não vai mais passar despercebida porque eu a notarei. Sua vida será testemunhada porque eu serei sua testemunha."

É isso que move as pessoas a se casarem. Isso me move a escrever num blog.

Seja você minha testemunha, se quiser. E então serei a sua também.

10.4.06

Home

Ela havia passado algum tempo no hospital se preparando para uma delicada cirurgia. Seu médico se compadeceu de sua condição e permitiu que ela passasse o feriado junto da família, no interior do estado. Toca o telefone: “Sim... Estou dentro do ônibus já. Atrasamos porque o trânsito aqui é sempre terrível, você sabe. Devo estar aqui de novo na segunda-feira de manhã, quando farei o último exame antes da cirurgia. Ah... Tive uma semana horrível. Muitas dores, chorei demais! Mas agora estou indo pra casa.”

Todo o seu relato parecia muito carregado de sofrimento. Dava pra perceber que ela sentia dores mesmo naquele instante. Contudo, sua última frase veio acompanhada de algo que parecia ser uma poderosa sensação de alívio: “Mas agora estou indo pra casa.”

Simples assim.

3.4.06

Le Voyage


Seu nome é Viajante, e ela vem de um longo percurso, parando em várias estadias. Aceitando a bússola do seu pai, ela começa sua própria jornada, no caminho de sempre.Sua viagem toma uma nova direção, entretanto, quando ela encontra seu fiel Companheiro, que a convida a deixar o caminho largo em que ela está viajando. Ela simplesmente tem que escolher ir até a pequena e estreita passagem que espera à distância. A Viajante não percebe que esta escolha a levará a novos níveis de júbilo, mas também trará experiências de desespero e medo.
Desde o deslumbramento da Grande Vista sobre a montanha até a hesitação na Cidade do Descanso, a Viajante continua a aprender.Mas depois seu caminho muda. Agora vagando em meio a dor e dúvidas sobre si mesma, ela procura forças e entendimento em seu novo Companheiro. Será que esta nova segurança será suficiente para levá-la pela Floresta de Medos e viver a experiência da suposta alegria que a espera no Lar? A Viajante precisa encarar a realidade de que, pra ter sucesso em sua jornada, será forçada a suportar o coração quebrado e provas diferentes de qualquer coisa que já tenha vivido.
Ela segue na assustadora caminhada por seus medos pessoais, recebendo o bálsamo calmante das Terras do Amor. Falando de si para si: “Há um caminho pequeno e estreito, no topo da montanha. E ele fala ao meu coração, convidando-me a entrar e seguir por onde ele vai... E o caminho que segue até essa passagem dos sonhos me leva embora. Com o vento ás minhas costas, a jornada que deixei pra trás, coloco meus pés na estrada que leva à vida. E tomo a mão dAquele que será meu Companheiro. Pois Ele vai me mostrar o lugar por onde começar.
Toda a minha vida eu estive à espera. Será este o lugar onde devo começar?”
A viagem está apenas começando.

1.3.06

Os Sapatos




Ele observava o antigo retrato. No centro, uma menina com roupa de colegial, 3 ou 4 anos de idade. Bem menininha mesmo, com um leve sorriso no rosto. Olhos bem azuis, cabelos ondulados e loiros, no centro de um jardim bem florido.

Sua atenção se voltou para os sapatinhos pretos que ela usava, um pouco gastos nas pontas. Então imaginou o quanto de significado aqueles raladinhos poderiam trazer, sentimentos de simplicidades. Sendo que ele mesmo também tivera uma origem humilde, sempre se vendo com roupas desbotadas e sapatos usados e gastos. Pensava nisso e ainda assim o sentimento que tinha de sua infancia era de felicidade.
Imaginou que a mãe daquela garotinha bem que colocaria, nela, sapatos de cristal, se pudesse. Mas isso seria muito menor que carinho que deveria ter por ela. Sim, aquela garota parecia feliz, parecia amada.

Concluiu que na vida, às vezes não existe muita diferença entre o complexo e o simples. Simples como um raladinho no sapato.

26.2.06

Amor à Primeira Vista


"If you believe in love at first sight, you never stop looking."

11.2.06

Menina dos Olhos


Olhos são janelas para a alma. É o que dizem. Isso significa que se você olhar bem de perto, verá o interior de uma pessoa.
Olhe diretamente nos meus, e verá transparência, confissões de qualquer sentimento que em mim exista: alegria, tristeza, preocupação, medo, angústia, solidaridade, amizade, simpatia (e empatia), amor, mágoa... Chegue mais perto ainda, e verá espelhos d'água, que por vezes refletem a pessoa que os vê. Verá o olhar de uma menina sonhadora, olhar com brilho de alegria (mesmo quando a vontade é de chorar). Olhos que também choram, às vezes. E isso nem é tão ruim. As janelas da alma precisam ser lavadas, de tempos em tempos, para devolver à vida sua nitidez.
Este é o olhar cansado de alguém que pensou ter perdido as forças, mas que na fraqueza se faz forte. E não o faz sozinha. Faz isso sob os olhos amorosos de um Pai que se preocupa com cada detalhe da sua vida. Que não a vê como ela é, mas em quem ela pode se tornar.
Você está diante de olhos que observam a vida pelo lado de dentro. Olhos que comunicam, que amam, que esperam. E, principalmente, que acreditam.

Welcome to my place.

Um beijo da Menina (que sorri com os olhos).